459 - USO DE APLICAÇÕES DIGITAIS DE ENCONTROS ENTRE HOMENS QUE TÊM SEXO COM HOMENS RESIDENTES NO BRASIL E EM PORTUGAL
Universidade de São Paulo; Universidade NOVA de Lisboa.
Antecedentes/Objetivos: A utilização crescente de telemóveis e a disponibilidade de várias aplicações dirigidas a homens que têm sexo com homens (HSH) contribuíram para a popularidade das plataformas digitais de encontros. Entretanto, a utilização destas aplicações tem sido associada a um risco mais elevado de infeções sexualmente transmissíveis (IST), ao consumo de substâncias ilícitas e a relações sexuais desprotegidas. Este estudo objetiva investigar a utilização de aplicações ou sites de encontros por parte de HSH adultos que vivem no Brasil e em Portugal, bem como a sua relação com variáveis comportamentais.
Métodos: Os dados deste inquérito online foram recolhidos entre maio e novembro de 2024, por intermédio de um questionário eletrónico divulgado nas redes sociais, que abrangeu dados sociodemográficos e comportamentais, incluindo o Risk Behavior Score (RBS), e variáveis relativas à utilização de aplicações. O RBS foi desenvolvido por Rocha et al. para medir o comportamento de risco acrescido da população de HSH, considerando o número e o tipo de parceiros sexuais e a utilização de preservativos nos 12 meses anteriores. A análise dos dados utilizou razões de prevalência e modelos de regressão log-binomial.
Resultados: O inquérito foi preenchido por 646 HSH de Portugal e 1345 do Brasil. Dos participantes de Portugal, 55,1% vivem em Lisboa e Vale do Tejo, 16,2% no Centro e 18,8% no Norte do país, sendo que 62,9% informaram que usaram alguma aplicação ou site de encontros nos últimos 12 meses, 25,2% não usam há mais de um ano e 11,9% nunca usaram. No Brasil, estes percentuais foram 69,4%, 20,4% e 10,2%, respetivamente. Em Portugal, o uso de aplicações foi maior entre migrantes e, em ambos os países, entre pessoas com história de infeção por sífilis e entre aqueles que consomem álcool ou drogas para facilitar ou aumentar o prazer nas relações sexuais. O uso de aplicações é menor entre as pessoas em relacionamento exclusivo, com maior rendimento, maior satisfação com a vida sexual e maiores escores de RBS. Em Portugal e no Brasil, 8,7% e 13,2% dos participantes, respetivamente, relataram já ter passado por alguma situação que pudesse causar danos emocionais, morais ou financeiros ao usar estas aplicações.
Conclusões/Recomendações: Em concordância com a literatura, a presente investigação mostra que o uso de aplicações de encontros é comum entre HSH do Brasil e de Portugal. Embora a investigação tenha demonstrado uma associação entre a utilização de aplicações e variáveis relativas a um risco maior de IST e situações de dano emocional, existe também a oportunidade de promoção em saúde. As aplicações poderiam ser usadas para levar informações sobre prevenção e acesso a serviços de cuidados à saúde.
Financiamento: FAPESP (#23/10473-5).