822 - TENDÊNCIA DA INCIDÊNCIA DE INFEÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS BACTERIANAS EM ALMADA-SEIXAL, PORTUGAL E EUROPA
Serviço de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde Almada-Seixal.
Antecedentes/Objetivos: As infeções sexualmente transmissíveis (IST) bacterianas estão entre as doenças de notificação obrigatória mais comuns. O aumento das resistências antibióticas e complicações como a doença inflamatória pélvica, a infertilidade e a transmissão vertical, com potencial de doença grave neonatal, representam algumas das preocupações perante estas infeções frequentemente assintomáticas. Estão associadas a comportamentos de risco, como a não utilização de métodos barreira, particularmente comuns entre os jovens e homens que fazem sexo com homens (HSH). O objetivo deste estudo é analisar a evolução da incidência de IST bacterianas selecionadas em Almada-Seixal (AS) e compará-la com os dados a nível nacional e europeu.
Métodos: Realizou-se um estudo observacional retrospetivo dos casos confirmados notificados de IST bacterianas, incluindo infeção por Chlamydia trachomatis (excluindo linfogranuloma venéreo), gonorreia e sífilis (excluindo sífilis congénita), entre 2018 e 2023. Os dados de nível europeu e nacional foram extraídos dos relatórios anuais do European Center for Disease Control e os dados de nível local foram obtidos através da plataforma SINAVE®. Foram calculadas as incidências por 100.000 habitantes e as proporções de diagnósticos por populações específicas, de acordo com faixa etária (< 18, 18-35, > 35 anos), sexo masculino e HSH.
Resultados: No período em estudo, observou-se um aumento da incidência, com um crescimento acentuado a nível local. Em 2023, foram reportados 111,65 casos/100.000 habitantes em AS, um aumento de 400% em relação a 2018, enquanto a nível nacional o crescimento foi de 290% e a nível europeu de 21%. Face a 2022, em AS, o maior crescimento foi observado na gonorreia, com 44,32 casos/100.000 habitantes (+28%), seguido pela sífilis com 29,26 casos/100.000 habitantes (+24%) e pela clamídia com 38,07 casos/100.000 habitantes (+20%). Nos casos reportados em AS, em 2023, 69% ocorreram na faixa etária 18-35 anos e 10% em idade pediátrica (< 18 anos). A maioria dos diagnósticos ocorreu na população masculina (64%), dos quais 53% pertencem ao subgrupo HSH.
Conclusões/Recomendações: O crescimento acentuado das IST bacterianas em AS, muitas vezes relacionadas com comportamentos de risco, aumenta o risco de complicações, especialmente na população pediátrica. Torna-se necessário o reforço das estratégias de prevenção de infeção e educação sexual, com foco nas populações de risco. Como limitação deste estudo, de referir que o aumento da incidência pode dever-se, em parte, a maior testagem ou maior adesão do processo de notificação clínica.