Antecedentes/Objetivos: Este é o primeiro estudo a investigar a associação entre câncer e trabalho noturno, em uma coorte de trabalhadores brasileiros. O objetivo foi estimar a associação entre trabalho noturno e a incidência de câncer de mama feminino, próstata e cólon-reto, entre os participantes do (ELSA-Brasil).

Métodos: O ELSA-Brasil é uma coorte multicêntrica, envolvendo as regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. Mais de 12.000 participantes da linha de base (2008-2010), de ambos os sexos, foram acompanhados em média por 13 anos. Curvas de sobrevivência foram geradas pelo método de Kaplan-Meier para estimar a probabilidade de desenvolver os desfechos segundo grupos de exposição (diaristas, plantonistas diurnos, plantonistas noturnos até 10 anos e mais de 10 anos). Diferenças entre as curvas foram avaliadas pelo teste log-rank (5% de significância, IC95%). A associação entre trabalho noturno e incidência de câncer foi estimada por regressão de Cox, calculando-se razões de risco (HRs) e IC95%.

Resultados: As curvas de Kaplan-Meier indicaram que a probabilidade de desenvolver câncer de próstata e cólon-reto foi maior entre plantonistas com mais de 10 anos de exposição ao trabalho noturno. Os testes de log- rank para os desfechos de próstata, p = 0,004 e cólon-reto, p = 0,003, confirmaram tal observação, apresentando diferenças estatisticamente significativas entre os grupos analisados. Em contrapartida, as curvas de sobrevivência estimadas em relação ao câncer de mama, apresentaram sobreposição ao longo do tempo, sugerindo ausência de diferenças consistentes entre os grupos avaliados (log – rank = 0,8). A exposição ao trabalho noturno por mais de 10 anos foi associada a um maior risco de câncer de próstata (HR = 1,50; IC95% = 1,08-2,07). Para as tipologias de mama (HR = 0,86; IC95% = 0,60-1,23) e cólon-reto (HR = 1,19; IC% = 0,90-1,57), não houve associação significativa.

Conclusões/Recomendações: Os resultados sugerem que a exposição prolongada ao trabalho pode aumentar o risco de câncer, especialmente para neoplasias de próstata, em trabalhadores com maior tempo de exposição. Esses achados contribuem para o avanço do conhecimento sobre o Câncer Relacionado ao Trabalho entre trabalhadores brasileiros e sobre os potenciais efeitos carcinogênicos do trabalho noturno.