470 - DÁDIVA DE SANGUE E PERCEÇÃO DE ACESSIBILIDADE ENTRE HOMENS QUE TÊM SEXO COM HOMENS EM PORTUGAL
Universidade de São Paulo; Universidade NOVA de Lisboa; Comprehensive Health Research Center, Universidade NOVA de Lisboa.
Antecedentes/Objetivos: Em 2021, as políticas que regulamentam a dádiva de sangue em Portugal foram revistas, e a restrição que anteriormente considerava os homens que têm sexo com homens (HSH) como inaptos por um período de 12 meses após a última relação considerada de risco foi substituída por uma abordagem mais inclusiva e baseada nos comportamentos de risco. O objetivo foi investigar a dádiva de sangue entre HSH que vivem em Portugal e a perceção da acessibilidade aos serviços de colheita de sangue.
Métodos: Trata-se de um estudo transversal do tipo web-survey. Os dados foram recolhidos entre maio e novembro de 2024 através de um questionário eletrónico divulgado nas redes sociais. O questionário foi composto por três blocos: dados sociodemográficos e comportamentais, dádiva de sangue e perceção da acessibilidade aos serviços de colheita, considerando os aspetos funcionais, culturais, económicos e geográficos. Os dados foram analisados através de modelação de equações estruturais.
Resultados: Dos 646 HSH que concordaram em participar, 528 completaram o inquérito, compondo a amostra final. O estudo envolveu participantes de todas as regiões do país, sendo que a maioria vivia na região de Lisboa e Vale do Tejo (56%), 26% eram migrantes, dos quais 85% viviam em Portugal há mais de 12 meses. Entre os que já deram sangue (47%), 69% tinham-no feito há mais de um ano e 79% antes da mudança nas normas. O modelo estrutural considerou a dádiva de sangue como construto central apresentou ajuste adequado aos dados (χ2/df = 0,01; CFI = 0,90; GFI = 0,89; RMSEA = 0,09) e uma variância explicada de 52%. Os aspetos culturais e funcionais da acessibilidade tiveram um impacto positivo na dádiva de sangue. Quanto mais os indivíduos percecionam uma comunicação eficaz e a preparação das equipas para lidar com a população LGBTQ+, bem como diretrizes claras e acessíveis, maior a probabilidade de já terem dado sangue ou virem a fazê-lo no futuro. A perceção de discriminação nos serviços de colheita, associada aos aspectos culturais da acessibilidade, exerceu um efeito negativo sobre a dádiva de sangue.
Conclusões/Recomendações: Grande parte da população de HSH residente em Portugal tem a dádiva de sangue como um comportamento comum e frequente e há evidências de que a perceção de acessibilidade e de discriminação nos serviços de colheita têm um impacto significativo na decisão de dar sangue. Fortalecer investigações e políticas públicas que priorizem as necessidades da população LGBTQ+ são essenciais para a criação de estratégias inclusivas e culturalmente sensíveis, que garantam a todos um acesso equitativo aos cuidados e serviços de saúde em Portugal.
Financiamento: FAPESP (#2023/08187-4; #2023/10473-5).