Antecedentes/Objetivos: A privação socioeconómica do local de residência pode impactar a saúde, ao refletir o acesso a serviços e recursos ambientais. Viver em contextos mais desfavorecidos tem sido associado a piores desfechos em saúde, podendo afetar especialmente as pessoas mais velhas, que passam mais tempo no seu local de residência. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre a privação socioeconómica residencial e o declínio cognitivo em pessoas mais velhas no Porto.

Métodos: Este estudo longitudinal envolveu participantes da coorte EPIPorto, iniciada em 1999, que tinham pelo menos 50 anos na avaliação inicial. A privação socioeconómica do entorno residencial foi avaliada através do Índice Europeu de Privação para Pequenas Áreas Geográficas Portuguesas (EDI-PT), e o declínio cognitivo através da versão portuguesa do Mini-Mental State Examination. Foi aplicada imputação multivariada e as associações foram estimadas utilizando modelos lineares mistos, brutos e ajustados, e expressas usando coeficientes (β) e respetivos intervalos de confiança a 95% (IC95%).

Resultados: O estudo incluiu um total de 1.457 participantes. Ao longo de cerca de 13 anos de seguimento, verificou-se um declínio cognitivo de -0,55 (IC95% -0,68,-0,38) por follow-up. Nos modelos brutos verificamos uma associação estatisticamente significativa entre o nível de privação do local de residência e o declínio cognitivo (β = -0,25; IC95% -0,38, -0,11), com maiores níveis de privação associados a um maior decréscimo na cognição. Porém, a associação deixou de ser significativa após ajuste para idade, sexo, estado civil, escolaridade, e ocupação profissional (-0,05; -0,17, 0,07). Além disso, os resultados demonstraram que os indivíduos mais velhos (-0,05; -0,07, -0,03), as mulheres (-0,49; -0,75, -0,27) e aqueles que possuem um menor nível de escolaridade (menos de 4 anos de escolaridade = -3,28; -3,88, 2,86; 4 a 6 anos = -1,31; -1,58, -1,04) apresentaram um maior declínio cognitivo.

Conclusões/Recomendações: Embora os resultados indiquem que os fatores individuais desempenham um papel central na saúde cognitiva, estudos futuros devem aprofundar os efeitos de outros determinantes ambientais do local de residência –como a presença de espaços verdes ou a exposição a poluentes– e o seu possível contributo para o declínio cognitivo.

Financiamento: UIDB/04750/2020, LA/P/0064/2020, PTDC/GES-OUT/1662/2020, CEECIND/02386/2018, UI/BD/150782/2020.