446 - TRANSIÇÃO GERACIONAL EM EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA: PERSPETIVA DE CARREIRA INTERMÉDIA EM PORTUGAL
Departamento de Epidemiologia, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge; Escola Nacional de Saúde Pública, ENSP, Centro de Investigação em Saúde Pública, Comprehensive Health Research Center, CHRC, LA-REAL, CCAL, Universidade NOVA de Lisboa.
A transição geracional em epidemiologia e saúde pública é essencial para a continuidade destas áreas. Em Portugal, o número de profissionais nestas áreas é limitado, particularmente no grupo de médicos de saúde pública que se encontra envelhecido. Nesta comunicação partilharei a experiência e os desafios do trabalho em epidemiologia e saúde pública na perspetiva de transição geracional em Portugal, ao longo dos últimos 10 anos, em representação da Associação Portuguesa de Epidemiologia. Desde 2013 conclui o internato médico em saúde pública, terminei o doutoramento, desempenhei funções enquanto professora auxiliar na Escola Nacional de Saúde Pública e médica de saúde pública no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Fui responsável por unidades curriculares na área da epidemiologia e estatística, orientei alunos de mestrado e doutoramento e estágios de investigação, e participei em mais de 10 projetos de investigação que resultaram na publicação de 39 artigos em revistas científicas. Quando ingressei no internato médico de saúde pública o ensino da epidemiologia focava-se nos desenhos de estudo clássicos em epidemiologia, com limites entre os estudos observacionais e experimentais. Ao longo deste período incorporei a perspetiva de inferência causal nas sessões de epidemiologia e ferramentas de inferência causal, tais como os grafos acíclicos dirigidos (Directed Acyclic Graphs, DAG), e desenhos de estudo quasi-experimentais. Promovi uma maior articulação entre a epidemiologia e estatística, bem como a atualização de software de acesso aberto (e.g. R). Atualmente, encontro-me a integrar ferramentas de inteligência artificial (e.g. large language models) no ensino da epidemiologia. A nível da investigação procurei promover a incorporação dos métodos e ferramentas mencionadas nos projetos em que participei. Como principais desafios identifico a resistência à mudança e incorporação de novos conceitos e ideias nas várias vertentes do trabalho realizado, a existência limitada de elementos sénior para efeitos de mentoria e a ausência de tempo para atualização de conhecimentos e práticas. Adicionalmente, será desafiante garantir a formação adequada de todos o número de novos profissionais a ingressar nesta área em Portugal, em particular no internato médico de saúde pública, atendendo à superioridade numérica em relação aos profissionais mais velhos. A formação contínua e alinhamento entre gerações será essencial de modo a conseguir garantir o sucesso e a qualidade do trabalho realizado na área.