INQUÉRITO SEROLÓGICO NUMA POPULAÇÃO DE RECRUTAS. DOSEAMENTOS DE ANTICORPOS CONTRA O SARAMPO, A PAPEIRA, O TÉTANO E A DIFTERIA
G Gonçalves*, H Rebelo-de-Andrade, M A Santos, A Silva-Graça
Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Portugal; Serviço de Doenças Infecciosas,
Hospital Militar de Belém, Lisboa, Portugal.
Antecedentes e objectivos:A vacina combinada contra o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola (VASPR), a vacina combinada contra a difteria, o tétano e a pertussis (DTP) e a vacina monovalente contra o tétano (T) (em adolescentes e adultos), fazem parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV) Português. O ambiente militar tem a particularidade de concentrar no espaço e no tempo, indivíduos de muitas proveniências geográficas o que torna particularmente interessante a realização de estudos seroepidemiológicos em recrutas. Sarampo: em consequência da elevada cobertura vacinal em Portugal, a incidência da doença tem diminuido e a idade média de ocorrência tem aumentado; assim, em 1988/89, foram observados surtos em adolescentes (em escolas) e em militares. Parotidite epidémica (papeira): houve em Portugal, uma grande epidemia de papeira devida à ineficácia da estirpe vacinal Rubini, usada durante alguns anos. Tétano: a prevenção do tétano pós traumático em militares, pela vacinação, é um dos mais notáveis êxitos da medicina militar. Difteria: em Portugal, desde 1990 que já não se faz qualquer reforço vacinal depois dos 5-6 anos de idade; a ocorrência de surtos de difteria em países da Europa Oriental é preocupante e justifica a necessidade de efectuar estudos seroepidemiológicos. Este estudo foi realizado com a finalidade obter informações para fundamentar recomendações sobre vacinação de recrutas e da população em geral.
Métodos: Nos dias 14 e 15 de Julho de 1997, foram colhidas amostras de sangue venoso a 209 recrutas portugueses durante a inspecção médica de incorporação na Escola Prática de Infantaria. Todos deram o seu consentimento informado para participar no estudo. De entre os que foram vacinados contra o tétano (T), no dia da inspecção, 89 deram uma segunda amostra de sangue em 11 de Agosto de 1997. Usando técnicas comerciais de ELISA, foram doseados anticorpos (IgG) contra o sarampo (n=209), a parotidite epidémica (n=209) e a difteria (n=202), nos soros pré-vacinais. Os anticorpos (IgG) contra o tétano foram doseados nos soros pré-vacinais (n=89) e pós-vacinais (n=89) por ELISA. Níveis limiares de anticorpos, recomendados pelos fabricantes dos "kits" de ELISA foram usados para classificar os indivíduos estudados em "imunes" ou "susceptíveis" às diferentes doenças.
Resultados: Para o sarampo e parotidite epidémica, respectivamente 95,2% (IC 95%: 91,4-97,7) e 90,9% (IC 95%: 86,2-94,4) estavam "imunes". Para a difteria, 10,9% (IC 95%: 7,0-16,0) estavam "imunes", 68,8% (IC 95%: 61,9-75,1) apresentavam níveis de anticorpos baixos pelo que o fabricante do "kit" de ELISA recomendava a "imediata revacinação", e 20,3% (IC 95%: 15,0-26,5) tinham níveis tão baixos que era recomendado proceder à "imunização básica imediatamente". Apenas 3 recrutas estavam "susceptíveis" ao tétano antes de serem vacinados; todos ficaram "imunes" após a vacinação.
Conclusões: Os resultados deste estudo fundamentam a estratégia adoptada pelas autoridades médico-militares portuguesas de vacinar sistematicamente os recrutas contra a difteria e o tétano usando a vacina dupla Td. Não é necessário vaciná-los com a vacina tríplice vírica VASPR. Provavelmente, os resultados são extrapoláveis para a população geral.