521 - EXPOSIÇÃO MERCURIAL E VULNERABILIDADE ALIMENTAR EM DIFERENTES CONTEXTOS TERRITORIAIS NA AMAZÔNIA
Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde/UFOPA; Programa de Pós Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte; Programa de Pós Graduação em Enfermagem/UEPA; Laboratório de Epidemiologia Molecular/UFOPA.
Antecedentes/Objetivos: Na Amazônia, o pescado representa a principal fonte de proteína para muitas populações tradicionais. No entanto, a crescente contaminação por mercúrio (Hg), impulsionada por atividades de garimpo e intensificada pelas mudanças climáticas, ameaça diretamente a segurança alimentar dessas populações. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo descrever o padrão alimentar de duas comunidades indígenas da Amazônia, analisando de que forma diferentes contextos territoriais influenciam a exposição ao mercúrio e a vulnerabilidade alimentar.
Métodos: Foram analisadas amostras de sangue de 256 participantes de duas comunidades indígenas de Santarém, Pará, Amazônia Brasileira (Baixo Tapajós = 72; área urbana = 184), com informações sobre o consumo de peixe. As concentrações de Hg (μg/L) foram medidas no equipamento DMA-80 Direct Mercury Analyzer e cada amostra foi analisada em duplicata. Os níveis de HgT foram descritos por percentis (p10 a p95) e médias, estratificadas em função da frequência de consumo semanal de peixe (alta vs. baixa). A comparação entre os grupos foi realizada por meio do teste de Kruskal-Wallis.
Resultados: Os níveis de HgT (em μg/L) foram mais altos na comunidade do Baixo Tapajós (média = 41,1; p95 = 103,6) do que na área urbana (média = 13,4; p95 = 40,5) (Kruskal-Wallis: χ2 = 76,95; p < 0,001). Em ambas as regiões, os indivíduos com maior frequência de consumo de peixe apresentaram níveis mais elevados de Hg. Na área urbana, a mediana passou de 5,8 μg/L (baixa frequência) para 12,5μg/L (alta frequência), enquanto no Baixo Tapajós os níveis foram elevados mesmo entre os de baixa frequência (p50: 25,1 μg/L), indicando contaminação ambiental generalizada.
Conclusões/Recomendações: A exposição ao mercúrio entre populações amazônicas está fortemente associada ao consumo de peixe. Em regiões como o Baixo Tapajós, a contaminação é tão extensa que compromete a segurança alimentar independentemente da frequência de consumo, atingindo mesmo os que consomem pouco peixe. As mudanças climáticas –ao alterarem os regimes hidrológicos, temperatura e matéria orgânica nos rios– favorecem a metilação do mercúrio e sua bioacumulação na cadeia alimentar aquática, agravando os riscos. Em um contexto de emergência climática, proteger os recursos pesqueiros e a saúde das populações tradicionais da Amazônia requer ações integradas de vigilância ambiental, controle da mineração ilegal e políticas públicas voltadas à segurança alimentar.
Financiamento: CNPq Processo: 408212/2022-5.